budismo
O caminho óctuplo, com três partes — sabedoria, realização e moralidade — exemplifica assim os três elementos que estão necessariamente presentes em todas as religiões: a verdade, o caminho espiritual e a virtude (Stoddart, 2004).
A compreensão ou visão correctas dizem respeito a uma profunda compreensão das quatro nobres verdades.
A intenção correta (também apresentada em livros budistas como pensamento correto) diz respeito ao atingir um estado de consciência onde não há obstruções nos processos de pensamento. Thich Nhat Hanh explica que o processo de pensar é a fala da mente e como o pensamento conduz à acção, esta etapa é fundamental para que o budista possa ter uma acção correta.
A intenção correta diz respeito à ausência de todas as obstruções emocionais. (...) um estado de consciência límpido (...) livre das considerações limitadoras do auto-interesse, sem tensões. (...) a mente deveria ser pura e livre da 'sede' carnal, da malevolência, da crueldade e coisas semelhantes." (Saddhastissa, 1977)
A fala correcta, segundo Hanh (2001) envolve falar sempre a verdade, não dizer coisas contraditórias, não falar com crueldade e não exagerar nem retocar os factos. Uma fala caracterizada pela presença de sabedoria e bondade.
A conduta ou acção correcta, segundo Hanh (2001) teria como base a ideia da atenção plena baseada no princípio da não-violência tanto para si mesmo como para os outros. Saddhatissa (1977) enfatiza a ideia de compreensão dos motivos subjacentes às acções, não sendo possível a acção correcta sem uma compreensão clara e profunda do que motiva qualquer acção. Por meios de subsistência correctos entende-se a noção de encontrar uma profissão ou meio de ganhar a vida que não entre em conflito ou transgressão com a ideia de compaixão, de respeito a si mesmo e ao outro.
O sexto passo, o esforço correcto, enfatiza um aspecto importante do budismo, o da força de vontade. Ao lado do elemento sabedoria, aquele que Buda mais teria preconizado teria sido o da vontade. Toda e qualquer meta para ser realizada depende de um imenso empenho. Alcançar a iluminação, meta do budismo, requer o uso determinado da vontade. Buda forneceu uma série de orientações a respeito desse factor, ligadas à ideia de tempo e de equilíbrio. Ele sugeria um caminhar lento e constante no caminho ao invés dos exageros. Ou seja, o esforço correcto está ancorado na compreensão correcta.
Em relação aos dois últimos factores, consciência correcta e concentração correcta, Smith (2004) considera-os como os mais ilustrativos dos ensinamentos do Buda, ligados à importância da prática da meditação.
A palavra que o Buda usava para meditação era bhavana, desenvolvimento mental, uma tarefa que envolve tanto a correcta concentração (o oitavo passo) quanto a correcta atenção (sétimo passo). (...)
"Nenhum mestre deu tanto crédito à influência da mente sobre a vida quanto o Buda. (...) O Buda aconselha tanto a auto-análise contínua que parece desencorajadora, mas ele achava que ela era necessária por acreditar que a libertação da existência inconsciente é apenas alcançada pela consciência refinada. (...) A correcta atenção tem como objectivo testemunhar todos os eventos físicos e mentais, inclusive as nossas emoções, sem reagir a eles, sem condenar alguns nem se prender a outros.
(Smith & Novak, 2004).
Esses dois fatores juntos levariam à percepção de que todos os estados físicos e mentais são fluídos e não duradouros; que o apego a estes estados está na raiz de grande parte do sofrimento que experimentamos; que temos pouco controlo sobre esses estados mentais e sensações físicas, assim como pouca consciência das nossas reacções. O aprofundamento da prática nesses dois factores permitiria ao indivíduo uma crescente autonomia em relação aos seus estados mentais e domínio da própria consciência ou factores mentais em jogo nas percepções que o sujeito tem de si mesmo e do mundo.
O caminho óctuplo fornece, assim, os parâmetros básicos que orientam o praticante, tanto numa relação interna à própria prática da meditação, como num espectro mais amplo, ou seja, fornecem os critérios para a acção no mundo. Eles estabelecem uma dimensão de reflexividade à própria prática e à acção no mundo.
Referências
- Hanh, T. N. (2001). A essência dos ensinamentos de Buda. Rio de Janeiro: Rocco.
- Saddhatissa, H. (1977). O caminho do Buda. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
- Smith, H. & Novak, P. (2004). Budismo: uma introdução concisa. São Paulo: Cultrix.
- Stoddart, W. (2004). O budismo ao seu alcance: princípios e expansão. Rio de Janeiro: Nova Era.
Budismo - O Caminho Óctuplo
A palavra que o Buda usava para meditação era bhavana, desenvolvimento mental, uma tarefa que envolve, entre outros, a concentração correcta (o oitavo passo) e a atenção correcta (sétimo passo)...No budismo considera-se que a quarta nobre verdade dá origem ao que é conhecido como o "caminho óctuplo". São oito factores que não são vistos como consecutivos, mas sim complementares. São eles:
1) compreensão ou visão correctas;
Segundo Stoddart (2004), os dois primeiros passos do caminho óctuplo dizem respeito à sabedoria, do terceiro ao quinto envolvem a moralidade e os três últimos a realização.1) compreensão ou visão correctas;
2) intenção correcta;
3) fala correcta;
4) conduta correcta;
5) meios de subsistência correcto;
6) esforço correcto;
7) consciência correcta;
8) concentração correcta.
O caminho óctuplo, com três partes — sabedoria, realização e moralidade — exemplifica assim os três elementos que estão necessariamente presentes em todas as religiões: a verdade, o caminho espiritual e a virtude (Stoddart, 2004).
A compreensão ou visão correctas dizem respeito a uma profunda compreensão das quatro nobres verdades.
A intenção correta (também apresentada em livros budistas como pensamento correto) diz respeito ao atingir um estado de consciência onde não há obstruções nos processos de pensamento. Thich Nhat Hanh explica que o processo de pensar é a fala da mente e como o pensamento conduz à acção, esta etapa é fundamental para que o budista possa ter uma acção correta.
A intenção correta diz respeito à ausência de todas as obstruções emocionais. (...) um estado de consciência límpido (...) livre das considerações limitadoras do auto-interesse, sem tensões. (...) a mente deveria ser pura e livre da 'sede' carnal, da malevolência, da crueldade e coisas semelhantes." (Saddhastissa, 1977)
A fala correcta, segundo Hanh (2001) envolve falar sempre a verdade, não dizer coisas contraditórias, não falar com crueldade e não exagerar nem retocar os factos. Uma fala caracterizada pela presença de sabedoria e bondade.
A conduta ou acção correcta, segundo Hanh (2001) teria como base a ideia da atenção plena baseada no princípio da não-violência tanto para si mesmo como para os outros. Saddhatissa (1977) enfatiza a ideia de compreensão dos motivos subjacentes às acções, não sendo possível a acção correcta sem uma compreensão clara e profunda do que motiva qualquer acção. Por meios de subsistência correctos entende-se a noção de encontrar uma profissão ou meio de ganhar a vida que não entre em conflito ou transgressão com a ideia de compaixão, de respeito a si mesmo e ao outro.
O sexto passo, o esforço correcto, enfatiza um aspecto importante do budismo, o da força de vontade. Ao lado do elemento sabedoria, aquele que Buda mais teria preconizado teria sido o da vontade. Toda e qualquer meta para ser realizada depende de um imenso empenho. Alcançar a iluminação, meta do budismo, requer o uso determinado da vontade. Buda forneceu uma série de orientações a respeito desse factor, ligadas à ideia de tempo e de equilíbrio. Ele sugeria um caminhar lento e constante no caminho ao invés dos exageros. Ou seja, o esforço correcto está ancorado na compreensão correcta.
Em relação aos dois últimos factores, consciência correcta e concentração correcta, Smith (2004) considera-os como os mais ilustrativos dos ensinamentos do Buda, ligados à importância da prática da meditação.
A palavra que o Buda usava para meditação era bhavana, desenvolvimento mental, uma tarefa que envolve tanto a correcta concentração (o oitavo passo) quanto a correcta atenção (sétimo passo). (...)
"Nenhum mestre deu tanto crédito à influência da mente sobre a vida quanto o Buda. (...) O Buda aconselha tanto a auto-análise contínua que parece desencorajadora, mas ele achava que ela era necessária por acreditar que a libertação da existência inconsciente é apenas alcançada pela consciência refinada. (...) A correcta atenção tem como objectivo testemunhar todos os eventos físicos e mentais, inclusive as nossas emoções, sem reagir a eles, sem condenar alguns nem se prender a outros.
(Smith & Novak, 2004).
Esses dois fatores juntos levariam à percepção de que todos os estados físicos e mentais são fluídos e não duradouros; que o apego a estes estados está na raiz de grande parte do sofrimento que experimentamos; que temos pouco controlo sobre esses estados mentais e sensações físicas, assim como pouca consciência das nossas reacções. O aprofundamento da prática nesses dois factores permitiria ao indivíduo uma crescente autonomia em relação aos seus estados mentais e domínio da própria consciência ou factores mentais em jogo nas percepções que o sujeito tem de si mesmo e do mundo.
O caminho óctuplo fornece, assim, os parâmetros básicos que orientam o praticante, tanto numa relação interna à própria prática da meditação, como num espectro mais amplo, ou seja, fornecem os critérios para a acção no mundo. Eles estabelecem uma dimensão de reflexividade à própria prática e à acção no mundo.
Referências
- Hanh, T. N. (2001). A essência dos ensinamentos de Buda. Rio de Janeiro: Rocco.
- Saddhatissa, H. (1977). O caminho do Buda. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
- Smith, H. & Novak, P. (2004). Budismo: uma introdução concisa. São Paulo: Cultrix.
- Stoddart, W. (2004). O budismo ao seu alcance: princípios e expansão. Rio de Janeiro: Nova Era.
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