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O valor de Mindfulness - Estar com as experiências negativas

16:12 Vítor Bertocchini 0 Comments

Sabe-se que o Evitamento está na base de uma pobre saúde mental e de diversas psicopatologias. Além disso, pode reduzir a flexibilidade em lidar com as situações, impactando negativamente na qualidade de vida (Kashdan, Barrios, Forsyth, & Steger, 2006). A estes padrões de comportamentos tem sido dado o nome de evitamento experiencial, que ocorre quando as pessoas usam estratégias para bloquear, alterar ou controlar experiências pessoais angustiantes/negativas, como pensamentos, emoções e sensações fisiológicas (Hayes et al., 1996).

Quando experimentamos pensamentos, emoções ou sensações desagradáveis, a maioria das vezes, temos a tendência natural a evitar essas experiências ​​- por vezes a todo o custo. Isto pode ser denominado de evitamento experiencial. O evitamento experiencial ocorre quando procuramos estratégias para bloquear, alterar ou controlar experiências pessoais angustiantes, como pensamentos, emoções e sensações fisiológicas (Hayes et al., 1996). A ironia é que o evitamento experiencial mantém e agrava o sofrimento psíquico (Hayes et al., 1996).

o "normal" é estar bem e eliminar o mal-estar é a prioridade!

Frequentemente segue-se uma regra arriscada: o "normal" é estar bem e eliminar o mal-estar é a prioridade. Contudo, as tentativas de alcançar o bem-estar são frequentemente ineficazes, pois pensamentos e sentimentos adversos ocorrem mesmo em circunstâncias favoráveis. Todos temos um instinto natural de sobrevivência incorporado no nosso "software" e ele é responsável pela nossa reação aversiva a eventos desagradáveis ​​ou desconfortáveis. Esse instinto diz-nos para evitar coisas que são desagradáveis, porque são susceptíveis de serem perigosas ou nocivas (por exemplo, um sabor amargo que desconhecemos ou um carro que se aproxima). No entanto, este mesmo instinto afeta os nossos processos internos, "desconectando a mente do corpo".

Não declare guerra a si mesmo!

Não importa a intensidade e a forma que tente escapar de si mesmo e de todos os seus pensamentos internos, sentimentos e experiências, você está "preso" em si mesmo. É no seu melhor interesse cultivar a vontade e a capacidade de se conectar consigo - mesmo com as partes que parecem assustadoras ou dolorosas.

Quando tentamos fugir ou negar pensamentos ou sentimentos desagradáveis, estamos a criar um "campo de batalha" interno. Estamos, essencialmente, a declarar guerra interna a nós mesmos - não há vencedores, só perdedores.

Para aqueles que têm pensamentos e sentimentos extremamente angustiantes ou indesejados, a vontade de afastá-los ou negá-los é compreensível. Afinal, quem iria desejar sentir dor e sofrimento? Para o alívio da dor interna ocorrer deverá abrir-se e experimentar os próprios pensamentos e sentimentos que está a tentar tão dificilmente evitar. Isto é muito difícil.

A dor é inevitável, o sofrimento não! 

A dor é inevitável, o sofrimento não. A distinção é muito importante. A dor que vem junto com certos pensamentos, sentimentos e acontecimentos da vida não pode ser evitada. É só quando reagimos à dor inevitável da vida através do bloqueio do corpo e da mente que criamos o nosso próprio sofrimento. Nós criamos sofrimento sem valor intrínseco.

Porquê Aceitar?

Uma componente essencial de Mindfulness é a Aceitação, que acaba por ser o oposto do evitamento. Quando aprendemos a praticar Mindfulness e aplicamos esta abordagem no quotidiano, com uma atitude aberta, curiosa e de aceitação a todas as experiências internas e externas (incluindo as dolorosas), então estaremos num processo de libertação do sofrimento.

Pode ser difícil para muitas pessoas acreditar que abrindo-se para a sua dor irá libertá-las do sofrimento. Se também pensa assim, considere o fato que, com todos os seus esforços para evitar a sua dor, você ainda está a sofrer. Eventualmente terá passado uma grande parte da sua vida aplicando os mesmos princípios para aliviar a dor. Por exemplo, evitando-a ou negando-a, e ainda assim sofre, talvez este seja um sinal de que é o momento de tentar algo diferente. Deve haver outro caminho.

Crane explica que: a prática de mindfulness é um processo de treino que nos permite ver claramente esses padrões habituais de evitamento ... a dor é um aspeto da "tapeçaria" global da nossa vida e ... é evitar esta realidade que cria mais dificuldades emocionais.



Sintonize-se com todas as suas experiências!

A próxima vez que tiver um pensamento, sentimento ou sensação aversivo, desagradável ou indesejado, use-o como uma oportunidade de responder ao evento de forma diferente do que faria normalmente. Observe o evento desagradável, acolha-o na sua experiência, examine-o pelo que ele é, aceite-o completamente (o que não significa aprová-lo), e, em seguida, solte-o.

Quando nos sentamos com pensamentos desagradáveis, sentimentos e sensações (mesmo que apenas por breves minutos) eles perdem a sua força (inicialmente pode acontecer o inverso). São apenas pensamentos - apenas sentimentos - e apenas sensações. Não permita que a sua mente lhes dê mais poder do que eles necessitam. São epifenómenos. Pratiquemos Mindfulness, uma "nova" forma, consciente e diligente, de satisfazer todas as experiências com abertura e aceitação.

As pessoas fazem de tudo, não importa o quão absurdo, para evitar enfrentar a sua própria alma.
Carl Jung

Sinta-se livre de expressar as suas opiniões, bem como a sua valiosa experiência, para que todos possam beneficiar (no espaço reservado para os comentários).


Referências Biliográficas

Crane, R. (2009). Mindfulness-based cognitive therapy. New York, NY: Routledge.

Hayes, S. C., Wilson, K. W., Gifford, E. V., Follette, V. M., & Strosahl, K. (1996). Experiential avoidance and behavioral disorders: A functional dimensional approach to diagnosis and treatment. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64(6), 1152-1168.

Kashdan, T. B., Barrios, V., Forsyth, J., & Steger, M. F. (2006). Experiential avoidance as a generalized psychological vulnerability: Comparisons with coping and emotion regulation strategies. Behaviour Research and Therapy, 44(9), 1301-20.
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