budismo

Budismo e Interdependência

17:47 Vítor Bertocchini 0 Comments

O princípio do co-surgimento interdependente informa-nos que para algo existir deve participar numa relação. O praticante atinge o nirvana através da compreensão da natureza ilusória do samsara. Então o nirvana e o samsara formam duas partes do mesmo todo. Essas partes não poderiam existir separadamente uma da outra. As duas partes formam um continuum que se manifesta mais num extremo do que no outro, mas nunca como um único extremo. Isso explica as razões do budismo enfatizar continuamente a sempre presente Natureza de Buda (potencial para a iluminação ou para a compreensão da verdade), que não existe em oposição à não-iluminação, mas em conjunto com ela. Assim, o self, existe da mesma forma que o não-self, ainda que em níveis diferentes, mas os dois participam do mesmo todo. A explicação do motivo pelo qual há o não-self deriva de um nível de realidade última, enquanto a necessidade da existência do self emerge a um nível convencional. A realidade última refere-se aos 5 agregados (forma, sensação, percepção, formação mental e consciência) e à ideia de que nenhum self lhes subjaz, enquanto a realidade convencional refere-se a designações linguísticas, que fazem parecer que existe uma realidade correspondente, é uma realidade aparente. Os Budistas nem totalmente rejeitam nem totalmente negam uma realidade em detrimento da outra, mas reconhecem que ambas existem na vida humana. Tanto a aceitação do self como a sua rejeição provam inextricavelmente as duas realidades co-existentes em que eles ocorrem.

A doutrina budista de anatman, que nega a distinção entre o self e o não-self, ressalta a unidade do universo e fornece um princípio ético para a sustentabilidade. De acordo com o princípio budista de interconexão, diversas aparências e fenómenos estão todos interligados na unidade da existência. Todos os seres, animais, plantas e minerais existem em interdependência. A interconexão com o nosso ambiente deve incutir em nós respeito, humildade, atenção e compaixão. O Buda ensinou que o nosso apego à noção de um self fixo, substancial e permanente impede-nos de alcançar a libertação espiritual. Ao romper os laços com o nosso self ilusório ficamos conscientes do nosso entre-ser com tudo o que existe.

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