livro,
No fundo, sinto a via que neste livro proponho, na linha de outras obras recentes [1], como um contributo para uma profunda mudança de paradigma cultural e civilizacional. Ao fazê-lo, assumo a continuidade do projecto de ecumenismo e universalismo espiritual de Agostinho da Silva [2], bem como a inspiração dos ensinamentos laicos, não religiosos nem budistas, de mestres budistas consagrados como Chogyam Trungpa, Thich Nhat Hanh e Sua Santidade o XIV Dalai Lama. Este livro insere-se ainda no projecto do Círculo do Entre-Ser, uma associação filosófica e ética da qual sou um dos fundadores e à qual neste momento presido, que visa precisamente promover uma espiritualidade e uma ética laicas e universalistas, transversais a todas as tradições e religiões da humanidade, com base na prática da meditação ou atenção plena [3].
Cabe enfatizar que essa espiritualidade e ética têm de radicar na prática e no cultivo regular da experiência meditativa, simultaneamente reflexiva e contemplativa, que conduz ao conhecimento aprofundado de si mesmo, não podendo reduzir-se a meras especulações intelectuais e abstractas ou ao conhecimento externo, livresco e erudito. Neste sentido, esta proposta é a de uma sabedoria ou filosofia práticas, mais conformes aliás com as origens da filosofia, como um modo de vida autêntica e integral e não como um mero modo de pensar divorciado da vida, como hoje em geral acontece. Espero que a leitora ou leitor possa sentir que tem nas mãos um livro para praticar e continuar com a sua vida, não para ler e arrumar na prateleira.
O que aqui proponho é uma espiritualidade e uma ética laicas, alimentadas pela experiência meditativa, na sua dupla vertente reflexiva e contemplativa, que acredito poder ser compatível com todas as crenças ou com a sua ausência. O que entendo por espiritualidade não é outra coisa senão a expansão fraterna e activa da consciência, que não é pertença exclusiva de nenhuma tradição espiritual, religiosa ou filosófica específica, sendo todavia o que em todas e cada uma delas há de melhor e mais autêntico e por isso compatível com a rica diversidade das suas formas.
Creio que não é o sermos ou pensarmos que somos budistas, cristãos, islâmicos, hindus, judeus, Bahá’í ou outra coisa, incluindo ateus ou agnósticos, que faz de nós pessoas melhores, mais serenas, sábias e fraternas, mas sim o sermos pessoas melhores, mais serenas, sábias e fraternas, que pode tornar-nos budistas, cristãos, islâmicos, hindus, judeus, Bahá’í, ateus ou agnósticos mais autênticos, felizes e solidários. Isto caso tenhamos alguma dessas identidades, o que não é todavia necessário: basta sermos pessoas autênticas, felizes e solidárias. Estou convicto que a meditação é um caminho bastante seguro e eficaz para isso.
A política da consciência é também a proposta de uma profunda mudança do paradigma dominante na política e, sendo transversal a todos os quadrantes ideológicos e partidários, transcende o espectáculo em geral triste e o horizonte estreito da política partidária e convencional, mediante uma visão de Bem Comum universal e integral que não desconsidera os seres não-humanos e os ecossistemas nem os factores internos, mentais e emocionais, da felicidade que todos procuramos, assumindo-os como parte das necessidades fundamentais de todo o ser humano. A política da consciência reúne contemplação e acção na acção integral, interna e externa, em prol de uma sociedade mais pacífica, solidária e desperta. Com efeito, como veremos, voltar a atenção para o interior e observar os movimentos da mente, deixá-los dissolver-se e repousar num estado calmo, claro e aberto, livre da fictícia separação entre eu e outro, pode revelar-se o fundamento indispensável de uma vida saudável e a acção interna que é a fonte de toda a acção externa justa e esclarecida, amorosa e compassiva. O estado do mundo e a tremenda violência contra a Terra e os seres, humanos e animais, são o espelho do contrário disto. Não há mudança de paradigma sem reunião da contemplação e da acção. Cremos ser este um dos desafios fundamentais do mundo contemporâneo, equidistante do extremo de uma contemplação sem acção externa e assim degradada numa experiência intelectual desprovida do calor e do dinamismo do amor e da compaixão, bem como do extremo oposto da obsessão do agir externo desprovido de visão e do mesmo dinamismo amoroso e compassivo e assim convertido numa agitação e activismo pouco esclarecidos e beligerantes que são parte de todos os problemas e de nenhuma solução"
Referências
[1] Cf. Paulo BORGES, É a Hora! A mensagem da Mensagem de Fernando Pessoa, Lisboa, Temas e Debates / Círculo de Leitores, 2013; Quem é o meu próximo? Ensaios e textos de intervenção por uma consciência e uma ética globais e um novo paradigma cultural e civilizacional, Lisboa, Mahatma, 2014.
[2] “Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir; busquemos em cada homem e em cada povo e em cada crença não o que nela existe de adverso, para que se levantem as barreiras, mas o que existe de comum e de abordável, para que se lancem as estradas da paz; empreguemos toda a nossa energia em estabelecer um mútuo entendimento; ponhamos de lado todo o instinto de particularismo e de luta, alarguemos a todos a nossa simpatia.Reflictamos em que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real”- Agostinho da SILVA, “Por um fim de batalha”, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, introdução e organização de Paulo Borges, Lisboa, Âncora Editora, 1999, p. 117.
[3] Podem consultar o nosso site em: http://www.circuloentreser.org/
MBSR, Mindfulness-Based Stress Reduction,Porto, Maia, Matosinhos, Portugal, Lisboa, Espanha, prática, praticar, Meditação, Mindfulness, Budismo, Zafu, Saúde, Formação, Buddhism, donate, doar, saúde, bem-estar, ansiedade, depressão, yoga, Teacher Training
O Coração da Vida - Guia Prático de Meditação
A via proposta neste livro visa oferecer a uma civilização e a uma sociedade confusas, divididas, conflituosas e sem rumo, confrontadas com um profundo mal-estar interior e graves riscos de colapso ecológico-social, uma orientação básica para que possamos ter vidas mais plenas, conscientes e fraternas, não só a respeito da humanidade, mas de todos os seres e da Terra.
No fundo, sinto a via que neste livro proponho, na linha de outras obras recentes [1], como um contributo para uma profunda mudança de paradigma cultural e civilizacional. Ao fazê-lo, assumo a continuidade do projecto de ecumenismo e universalismo espiritual de Agostinho da Silva [2], bem como a inspiração dos ensinamentos laicos, não religiosos nem budistas, de mestres budistas consagrados como Chogyam Trungpa, Thich Nhat Hanh e Sua Santidade o XIV Dalai Lama. Este livro insere-se ainda no projecto do Círculo do Entre-Ser, uma associação filosófica e ética da qual sou um dos fundadores e à qual neste momento presido, que visa precisamente promover uma espiritualidade e uma ética laicas e universalistas, transversais a todas as tradições e religiões da humanidade, com base na prática da meditação ou atenção plena [3].
Cabe enfatizar que essa espiritualidade e ética têm de radicar na prática e no cultivo regular da experiência meditativa, simultaneamente reflexiva e contemplativa, que conduz ao conhecimento aprofundado de si mesmo, não podendo reduzir-se a meras especulações intelectuais e abstractas ou ao conhecimento externo, livresco e erudito. Neste sentido, esta proposta é a de uma sabedoria ou filosofia práticas, mais conformes aliás com as origens da filosofia, como um modo de vida autêntica e integral e não como um mero modo de pensar divorciado da vida, como hoje em geral acontece. Espero que a leitora ou leitor possa sentir que tem nas mãos um livro para praticar e continuar com a sua vida, não para ler e arrumar na prateleira.
Se a informação contida não pode deixar de reflectir a minha formação espiritual, meditativa e ética como alguém que tenta seguir a via do Buda, a novidade deste livro – em relação a outros guias de meditação meramente técnicos ou conotados com uma tradição espiritual ou religiosa específica – reside precisamente em expor exercícios meditativos tradicionais enquadrados na proposta de um caminho espiritual, meditativo e ético, de acção integral, que seja transversal e possa ser seguido por todas as pessoas, independentemente das suas orientações e convicções religiosas, filosóficas ou outras.
O que aqui proponho é uma espiritualidade e uma ética laicas, alimentadas pela experiência meditativa, na sua dupla vertente reflexiva e contemplativa, que acredito poder ser compatível com todas as crenças ou com a sua ausência. O que entendo por espiritualidade não é outra coisa senão a expansão fraterna e activa da consciência, que não é pertença exclusiva de nenhuma tradição espiritual, religiosa ou filosófica específica, sendo todavia o que em todas e cada uma delas há de melhor e mais autêntico e por isso compatível com a rica diversidade das suas formas.
Creio que não é o sermos ou pensarmos que somos budistas, cristãos, islâmicos, hindus, judeus, Bahá’í ou outra coisa, incluindo ateus ou agnósticos, que faz de nós pessoas melhores, mais serenas, sábias e fraternas, mas sim o sermos pessoas melhores, mais serenas, sábias e fraternas, que pode tornar-nos budistas, cristãos, islâmicos, hindus, judeus, Bahá’í, ateus ou agnósticos mais autênticos, felizes e solidários. Isto caso tenhamos alguma dessas identidades, o que não é todavia necessário: basta sermos pessoas autênticas, felizes e solidárias. Estou convicto que a meditação é um caminho bastante seguro e eficaz para isso.
Pacificar a mente e despertar a consciência
Escrevo e publico este livro com a convicção profunda de que pacificar a mente e despertar a consciência, levando-a ao pleno desenvolvimento de todas as suas ilimitadas potencialidades cognitivas e afectivas, deve tornar-se o centro das nossas preocupações e investimentos pessoais, sociais e políticos. Com serenidade, sabedoria, amor e compaixão, encontraremos as soluções mais adequadas para todos os problemas sociais, políticos, económicos e ambientais. Sem serenidade, sabedoria, amor e compaixão, todas as pretensas soluções sociais, políticas, económicas e ambientais jamais deixarão de se converter em novos e maiores problemas, como em geral tem acontecido. A humanidade paga muito caro a recusa da espiritualidade, que, insisto, não é religião, mas a expansão fraterna e activa da consciência. É isto que temos de mudar, se queremos realmente mudar alguma coisa. É a isto que chamo política da consciência, que começa pelo que se pode chamar a micropolítica da mudança de cada uma das nossas mentes e pela educação de cada um de nós e dos mais jovens para sermos mais conscientes da interconexão e interdependência de todas as formas de vida e dos ecossistemas, numa ética da responsabilidade e da solidariedade universal.A política da consciência é também a proposta de uma profunda mudança do paradigma dominante na política e, sendo transversal a todos os quadrantes ideológicos e partidários, transcende o espectáculo em geral triste e o horizonte estreito da política partidária e convencional, mediante uma visão de Bem Comum universal e integral que não desconsidera os seres não-humanos e os ecossistemas nem os factores internos, mentais e emocionais, da felicidade que todos procuramos, assumindo-os como parte das necessidades fundamentais de todo o ser humano. A política da consciência reúne contemplação e acção na acção integral, interna e externa, em prol de uma sociedade mais pacífica, solidária e desperta. Com efeito, como veremos, voltar a atenção para o interior e observar os movimentos da mente, deixá-los dissolver-se e repousar num estado calmo, claro e aberto, livre da fictícia separação entre eu e outro, pode revelar-se o fundamento indispensável de uma vida saudável e a acção interna que é a fonte de toda a acção externa justa e esclarecida, amorosa e compassiva. O estado do mundo e a tremenda violência contra a Terra e os seres, humanos e animais, são o espelho do contrário disto. Não há mudança de paradigma sem reunião da contemplação e da acção. Cremos ser este um dos desafios fundamentais do mundo contemporâneo, equidistante do extremo de uma contemplação sem acção externa e assim degradada numa experiência intelectual desprovida do calor e do dinamismo do amor e da compaixão, bem como do extremo oposto da obsessão do agir externo desprovido de visão e do mesmo dinamismo amoroso e compassivo e assim convertido numa agitação e activismo pouco esclarecidos e beligerantes que são parte de todos os problemas e de nenhuma solução"
Referências
[1] Cf. Paulo BORGES, É a Hora! A mensagem da Mensagem de Fernando Pessoa, Lisboa, Temas e Debates / Círculo de Leitores, 2013; Quem é o meu próximo? Ensaios e textos de intervenção por uma consciência e uma ética globais e um novo paradigma cultural e civilizacional, Lisboa, Mahatma, 2014.
[2] “Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir; busquemos em cada homem e em cada povo e em cada crença não o que nela existe de adverso, para que se levantem as barreiras, mas o que existe de comum e de abordável, para que se lancem as estradas da paz; empreguemos toda a nossa energia em estabelecer um mútuo entendimento; ponhamos de lado todo o instinto de particularismo e de luta, alarguemos a todos a nossa simpatia.Reflictamos em que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real”- Agostinho da SILVA, “Por um fim de batalha”, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, introdução e organização de Paulo Borges, Lisboa, Âncora Editora, 1999, p. 117.
[3] Podem consultar o nosso site em: http://www.circuloentreser.org/
MBSR, Mindfulness-Based Stress Reduction,Porto, Maia, Matosinhos, Portugal, Lisboa, Espanha, prática, praticar, Meditação, Mindfulness, Budismo, Zafu, Saúde, Formação, Buddhism, donate, doar, saúde, bem-estar, ansiedade, depressão, yoga, Teacher Training
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