ciencia,
Introdução
A resposta de relaxamento (RR) é um estado fisiológico e psicológico oposto ao stresse ou à resposta fight-or-flight (luta ou fuga) (Benson, Beary & Carol, 1974; Benson , 1975; Dusek & Benson, 2009). Práticas milenares que evocam a RR incluem meditação, yoga e oração repetitiva. Embora o desencadear da RR seja uma intervenção terapêutica eficaz, que neutraliza os efeitos clínicos adversos do stresse nas doenças, incluindo hipertensão, ansiedade, insónia e envelhecimento, os mecanismos moleculares subjacentes que explicam esses benefícios clínicos permanecem indeterminados.
Os resultados de estudos de investigação rigorosos indicam a capacidade de várias intervenções mente-corpo na redução do stresse crónico e no aumento do bem-estar através da indução da RR (Benson, Beary & Carol, 1974; Cohen S, Janicki-Deverts, Miller, 2007). Vários estudos relataram também que o desencadear da RR é uma intervenção terapêutica eficaz para neutralizar os efeitos clínicos adversos do stresse nos distúrbios que incluem: hipertensão (Dusek, Hibberd, Buczynski, Chang, Dusek et al. ,2008), ansiedade (Nakao, Fricchione, Myers, Zuttermeister, Baim et al.,2001;); insónia (Jacobs, Rosenberg, Friedman, Matheson, Peavy, et al., 1993; Morin, Gaulier, Barry, Kowatch, 1992); diabetes (Hegde, Adhikari, Kotian, Pinto, D'Souza et al., 2011), artrite reumatóide (Astin, Beckner, Soeken, Hochberg, Berman, 2002), e envelhecimento (Alexander Langer, Newman, Chandler, Davies, 1989; Galvin, Benson, Deckro, Fricchione, Dusek, 2006).
A RR tem sido associada a mudanças bioquímicas caracterizadas por uma diminuição do consumo de oxigénio (Dusek, Chang, Zaki, Lazar, Deykin et al., 2006), eliminação de dióxido de carbono, pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória (Wallace, Benson, Wilson, 1971; Benson, Beary, Carol,1974), bem como um aumento da variabilidade da frequência cardíaca (Young-Jae Park, Young-Bae Park, 2012) e alterações nas regiões cerebrais (Fayed, Lopez Del Hoyo, Andres, Serrano-Blanco, Bellón, Aguilar, Cebolla, Garcia-Campayo, 2013).
Amostra
O design do estudo foi composto por 26 indivíduos saudáveis, sem experiência em meditação (Novatos, N1). Este grupo recebeu treino durante 8 semanas, passando para praticantes de curto prazo (N2). Foi também recrutado outro grupo de 26 indivíduos saudáveis que tinham experiência prévia significativa da prática regular de RR de 4-20 anos (Praticantes de longo prazo, M) para ser comparado com os novatos, antes ou após o seu treino de RR de 8 semanas. Os sujeitos do estudo foram recrutados na comunidade da área de Boston usando o jornal, internet e anúncios.
Intervenção
Os participantes de longo prazo relataram praticar regularmente várias técnicas que produzem RR, incluindo vários tipos de meditação, yoga e oração repetitiva. Eles não receberam nenhuma intervenção, como parte deste estudo. Os novatos receberam treino em técnicas para despoletar a RR e que incluiu 8 sessões de treino individual semanal com um orientador experiente. Durante a sessão semanal, os indivíduos foram orientados através de uma sequência de RR, incluindo respiração diafragmática, scan do corpo, a repetição de mantra e meditação mindfulness, enquanto passivamente ignorando pensamentos intrusivos. Foi distribuído um CD áudio de 20 minutos com orientações relativas à mesma sequencia realizada no laboratório, para ouvir em casa uma vez por dia.
Resultados
Herbert Benson do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston e seus colaboradores analisaram os perfis genéticos dos 26 voluntários - nenhum dos quais meditava regularmente (N1), antes de lhes ensinar uma rotina de relaxamento. Depois de oito semanas de execução da técnica diária, o perfil do genes dos voluntários (N2) foi analisado novamente. Agrupamentos de genes benéficos e importantes tornaram-se mais activos e os mais prejudiciais menos activos.
Os genes activados tiveram três principais efeitos benéficos: melhorar a eficiência das mitocôndrias (a fábrica das células), aumentar a produção da insulina, o que melhora o controlo de açúcar no sangue e evitar o esgotamento dos telómeros, elementos nos cromossomas que ajudam a manter o DNA estável e assim prevenir o desgaste e envelhecimento celular.
Os clusters de genes que se tornaram menos activos foram aqueles governados por um gene mestre chamado NF-kB, o que desencadeia uma inflamação crónica e que leva a doenças como a hipertensão arterial, doença cardíaca, doença inflamatória intestinal e alguns cancros.
Ao recolher análises sanguíneas imediatamente antes e depois, após a realização da técnica num único dia, os investigadores também demonstraram que as alterações do gene ocorreram em poucos minutos. Para efeitos comparativos, os investigadores também recolheram amostras de 26 voluntários com prática em técnicas de relaxamento (M). Eles tinham perfis de genes benéficos, mesmo antes de executar as suas rotinas no laboratório, o que sugere que as técnicas resultaram em mudanças a longo prazo nos seus genes.
"Descobrimos que quanto mais se pratica, mais profundas são as mudanças da expressão genómica", diz Benson. Ele e os seus colaboradores estão agora a investigar como os perfis genéticos são alterados e se essas técnicas podem aliviar os sintomas em pessoas com pressão arterial alta, doença inflamatória intestinal e mieloma múltiplo, um tipo de cancro de medula óssea.
Referências Bibliográficas:
Astin JA, Beckner W, Soeken K, Hochberg MC, Berman B (2002) Psychological interventions for rheumatoid arthritis: a meta-analysis of randomized controlled trials. Arthritis and rheumatism 47: 291–302.
Alexander CN, Langer EJ, Newman RI, Chandler HM, Davies JL (1989) Transcendental meditation, mindfulness, and longevity: an experimental study with the elderly. Journal of personality and social psychology 57: 950–964.
Benson H, Beary JF, Carol MP (1974) The relaxation response. Psychiatry 37: 37–46.
Benson H (1975) The Relaxation Response: HarperCollins.
Benson H, Frankel FH, Apfel R, Daniels MD, Schniewind HE, et al. (1978) Treatment of anxiety: a comparison of the usefulness of self-hypnosis and a meditational relaxation technique. An overview. Psychotherapy and psychosomatics 30: 229–242.
Cohen S, Janicki-Deverts D, Miller GE (2007) Psychological stress and disease. JAMA : the journal of the American Medical Association 298: 1685–1687.
Dusek JA, Chang BH, Zaki J, Lazar S, Deykin A, et al. (2006) Association between oxygen consumption and nitric oxide production during the relaxation response. Medical science monitor : international medical journal of experimental and clinical research 12: CR1–10.
Dusek JA, Benson H (2009) Mind-body medicine: a model of the comparative clinical impact of the acute stress and relaxation responses. Minnesota medicine 92: 47–50.
Dusek JA, Hibberd PL, Buczynski B, Chang BH, Dusek KC, et al. (2008) Stress management versus lifestyle modification on systolic hypertension and medication elimination: a randomized trial. Journal of alternative and complementary medicine 14: 129–138.
Fayed N, Lopez Del Hoyo Y, Andres E, Serrano-Blanco A, Bellón J, Aguilar K, Cebolla A, Garcia-Campayo J. (2013). Brain changes in long-term zen meditators using proton magnetic resonance spectroscopy and diffusion tensor imaging: a controlled study. PloS one, 8(3):e58476.
Galvin JA, Benson H, Deckro GR, Fricchione GL, Dusek JA (2006) The relaxation response: reducing stress and improving cognition in healthy aging adults. Complementary therapies in clinical practice 12: 186–191.
Hegde SV, Adhikari P, Kotian S, Pinto VJ, D'Souza S, et al. (2011) Effect of 3-month yoga on oxidative stress in type 2 diabetes with or without complications: a controlled clinical trial. Diabetes care 34: 2208–2210.
Jacobs GD, Rosenberg PA, Friedman R, Matheson J, Peavy GM, et al. (1993) Multifactor behavioral treatment of chronic sleep-onset insomnia using stimulus control and the relaxation response. A preliminary study. Behavior modification 17: 498–509.
Morin CM, Gaulier B, Barry T, Kowatch RA (1992) Patients' acceptance of psychological and pharmacological therapies for insomnia. Sleep 15: 302–305.
Nakao M, Fricchione G, Myers P, Zuttermeister PC, Baim M, et al. (2001) Anxiety is a good indicator for somatic symptom reduction through behavioral medicine intervention in a mind/body medicine clinic. Psychotherapy and psychosomatics 70: 50–57.
Young-Jae Park, Young-Bae Park (2012). Clinical utility of paced breathing as a concentration meditation practice, Complementary Therapies in Medicine, 20, 393–399.
Wallace RK, Benson H, Wilson AF (1971) A wakeful hypometabolic physiologic state. The American journal of physiology 221: 795–799.
Estudo original
A meditação estimula genes que promovem a saúde
Introdução
A resposta de relaxamento (RR) é um estado fisiológico e psicológico oposto ao stresse ou à resposta fight-or-flight (luta ou fuga) (Benson, Beary & Carol, 1974; Benson , 1975; Dusek & Benson, 2009). Práticas milenares que evocam a RR incluem meditação, yoga e oração repetitiva. Embora o desencadear da RR seja uma intervenção terapêutica eficaz, que neutraliza os efeitos clínicos adversos do stresse nas doenças, incluindo hipertensão, ansiedade, insónia e envelhecimento, os mecanismos moleculares subjacentes que explicam esses benefícios clínicos permanecem indeterminados.
Os resultados de estudos de investigação rigorosos indicam a capacidade de várias intervenções mente-corpo na redução do stresse crónico e no aumento do bem-estar através da indução da RR (Benson, Beary & Carol, 1974; Cohen S, Janicki-Deverts, Miller, 2007). Vários estudos relataram também que o desencadear da RR é uma intervenção terapêutica eficaz para neutralizar os efeitos clínicos adversos do stresse nos distúrbios que incluem: hipertensão (Dusek, Hibberd, Buczynski, Chang, Dusek et al. ,2008), ansiedade (Nakao, Fricchione, Myers, Zuttermeister, Baim et al.,2001;); insónia (Jacobs, Rosenberg, Friedman, Matheson, Peavy, et al., 1993; Morin, Gaulier, Barry, Kowatch, 1992); diabetes (Hegde, Adhikari, Kotian, Pinto, D'Souza et al., 2011), artrite reumatóide (Astin, Beckner, Soeken, Hochberg, Berman, 2002), e envelhecimento (Alexander Langer, Newman, Chandler, Davies, 1989; Galvin, Benson, Deckro, Fricchione, Dusek, 2006).
A RR tem sido associada a mudanças bioquímicas caracterizadas por uma diminuição do consumo de oxigénio (Dusek, Chang, Zaki, Lazar, Deykin et al., 2006), eliminação de dióxido de carbono, pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória (Wallace, Benson, Wilson, 1971; Benson, Beary, Carol,1974), bem como um aumento da variabilidade da frequência cardíaca (Young-Jae Park, Young-Bae Park, 2012) e alterações nas regiões cerebrais (Fayed, Lopez Del Hoyo, Andres, Serrano-Blanco, Bellón, Aguilar, Cebolla, Garcia-Campayo, 2013).
Amostra
O design do estudo foi composto por 26 indivíduos saudáveis, sem experiência em meditação (Novatos, N1). Este grupo recebeu treino durante 8 semanas, passando para praticantes de curto prazo (N2). Foi também recrutado outro grupo de 26 indivíduos saudáveis que tinham experiência prévia significativa da prática regular de RR de 4-20 anos (Praticantes de longo prazo, M) para ser comparado com os novatos, antes ou após o seu treino de RR de 8 semanas. Os sujeitos do estudo foram recrutados na comunidade da área de Boston usando o jornal, internet e anúncios.
Intervenção
Os participantes de longo prazo relataram praticar regularmente várias técnicas que produzem RR, incluindo vários tipos de meditação, yoga e oração repetitiva. Eles não receberam nenhuma intervenção, como parte deste estudo. Os novatos receberam treino em técnicas para despoletar a RR e que incluiu 8 sessões de treino individual semanal com um orientador experiente. Durante a sessão semanal, os indivíduos foram orientados através de uma sequência de RR, incluindo respiração diafragmática, scan do corpo, a repetição de mantra e meditação mindfulness, enquanto passivamente ignorando pensamentos intrusivos. Foi distribuído um CD áudio de 20 minutos com orientações relativas à mesma sequencia realizada no laboratório, para ouvir em casa uma vez por dia.
Resultados
Herbert Benson do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston e seus colaboradores analisaram os perfis genéticos dos 26 voluntários - nenhum dos quais meditava regularmente (N1), antes de lhes ensinar uma rotina de relaxamento. Depois de oito semanas de execução da técnica diária, o perfil do genes dos voluntários (N2) foi analisado novamente. Agrupamentos de genes benéficos e importantes tornaram-se mais activos e os mais prejudiciais menos activos.
Padrões temporais da expressão genética durante uma sessão desencadeadora da resposta de relaxamento
Os genes activados tiveram três principais efeitos benéficos: melhorar a eficiência das mitocôndrias (a fábrica das células), aumentar a produção da insulina, o que melhora o controlo de açúcar no sangue e evitar o esgotamento dos telómeros, elementos nos cromossomas que ajudam a manter o DNA estável e assim prevenir o desgaste e envelhecimento celular.
Os clusters de genes que se tornaram menos activos foram aqueles governados por um gene mestre chamado NF-kB, o que desencadeia uma inflamação crónica e que leva a doenças como a hipertensão arterial, doença cardíaca, doença inflamatória intestinal e alguns cancros.
Ao recolher análises sanguíneas imediatamente antes e depois, após a realização da técnica num único dia, os investigadores também demonstraram que as alterações do gene ocorreram em poucos minutos. Para efeitos comparativos, os investigadores também recolheram amostras de 26 voluntários com prática em técnicas de relaxamento (M). Eles tinham perfis de genes benéficos, mesmo antes de executar as suas rotinas no laboratório, o que sugere que as técnicas resultaram em mudanças a longo prazo nos seus genes.
"Descobrimos que quanto mais se pratica, mais profundas são as mudanças da expressão genómica", diz Benson. Ele e os seus colaboradores estão agora a investigar como os perfis genéticos são alterados e se essas técnicas podem aliviar os sintomas em pessoas com pressão arterial alta, doença inflamatória intestinal e mieloma múltiplo, um tipo de cancro de medula óssea.
Referências Bibliográficas:
Astin JA, Beckner W, Soeken K, Hochberg MC, Berman B (2002) Psychological interventions for rheumatoid arthritis: a meta-analysis of randomized controlled trials. Arthritis and rheumatism 47: 291–302.
Alexander CN, Langer EJ, Newman RI, Chandler HM, Davies JL (1989) Transcendental meditation, mindfulness, and longevity: an experimental study with the elderly. Journal of personality and social psychology 57: 950–964.
Benson H, Beary JF, Carol MP (1974) The relaxation response. Psychiatry 37: 37–46.
Benson H (1975) The Relaxation Response: HarperCollins.
Benson H, Frankel FH, Apfel R, Daniels MD, Schniewind HE, et al. (1978) Treatment of anxiety: a comparison of the usefulness of self-hypnosis and a meditational relaxation technique. An overview. Psychotherapy and psychosomatics 30: 229–242.
Cohen S, Janicki-Deverts D, Miller GE (2007) Psychological stress and disease. JAMA : the journal of the American Medical Association 298: 1685–1687.
Dusek JA, Chang BH, Zaki J, Lazar S, Deykin A, et al. (2006) Association between oxygen consumption and nitric oxide production during the relaxation response. Medical science monitor : international medical journal of experimental and clinical research 12: CR1–10.
Dusek JA, Benson H (2009) Mind-body medicine: a model of the comparative clinical impact of the acute stress and relaxation responses. Minnesota medicine 92: 47–50.
Dusek JA, Hibberd PL, Buczynski B, Chang BH, Dusek KC, et al. (2008) Stress management versus lifestyle modification on systolic hypertension and medication elimination: a randomized trial. Journal of alternative and complementary medicine 14: 129–138.
Fayed N, Lopez Del Hoyo Y, Andres E, Serrano-Blanco A, Bellón J, Aguilar K, Cebolla A, Garcia-Campayo J. (2013). Brain changes in long-term zen meditators using proton magnetic resonance spectroscopy and diffusion tensor imaging: a controlled study. PloS one, 8(3):e58476.
Galvin JA, Benson H, Deckro GR, Fricchione GL, Dusek JA (2006) The relaxation response: reducing stress and improving cognition in healthy aging adults. Complementary therapies in clinical practice 12: 186–191.
Hegde SV, Adhikari P, Kotian S, Pinto VJ, D'Souza S, et al. (2011) Effect of 3-month yoga on oxidative stress in type 2 diabetes with or without complications: a controlled clinical trial. Diabetes care 34: 2208–2210.
Jacobs GD, Rosenberg PA, Friedman R, Matheson J, Peavy GM, et al. (1993) Multifactor behavioral treatment of chronic sleep-onset insomnia using stimulus control and the relaxation response. A preliminary study. Behavior modification 17: 498–509.
Morin CM, Gaulier B, Barry T, Kowatch RA (1992) Patients' acceptance of psychological and pharmacological therapies for insomnia. Sleep 15: 302–305.
Nakao M, Fricchione G, Myers P, Zuttermeister PC, Baim M, et al. (2001) Anxiety is a good indicator for somatic symptom reduction through behavioral medicine intervention in a mind/body medicine clinic. Psychotherapy and psychosomatics 70: 50–57.
Young-Jae Park, Young-Bae Park (2012). Clinical utility of paced breathing as a concentration meditation practice, Complementary Therapies in Medicine, 20, 393–399.
Wallace RK, Benson H, Wilson AF (1971) A wakeful hypometabolic physiologic state. The American journal of physiology 221: 795–799.
Estudo original
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